- Ela me disse que só queria dar um passeio...
- E você acreditou?
- Bem...se eu não acreditar nela de que serviria perguntá-la a respeito?
- Não deveria tê-la perguntado, mas tê-la seguido... fingia que não se interessava e ia atrás, mas com discrição, é claro...
- Se eu fizesse o que você está falando seria ela a ter motivos para desconfiar de mim...eu sim estaria sendo dissimulado, enganador e etc...
- Mas...mas você não entende?! É pro seu bem! Afinal, você quer ou não quer saber se ela trai você?
- Eu quero saber, mas não traindo ela. Não traindo a confiança que ela tem em mim e que ela sabe que eu tenho nela.
- Mas não é a mesma coisa?! Se você está desconfiado é porque você não tem confiança. Você estaria traindo o quê?
- Eu estaria traindo aos olhos dela.Veja bem...eu quero saber se ela está me traindo, mas não posso traí-la para isso. Minha desconfiança é só minha. Se eu transformá-la numa atitude concreta de falta de confiança aí sim ela se transformará numa traição. Por enquanto eu só desconfio...mas não deixo de confiar.
- Você tá ficando louco!
- Você já parou pra pensar na hipótese de não haver nada de errado? E se ela, de fato, não estiver me traindo? Já pensou se ela me pega seguindo-a? Com que cara eu ficaria?
- Com cara de desconfiado!
- Não! Com cara de pseudo-corno!
- Pseudo-corno?
- Sim, pseudo-corno. Além de dar provas a ela de minha traição à confiança que mantemos um no outro, eu ainda estaria me passando por um homem paranóico, inseguro e burro, um pseudo-corno.
- Burro?! Você está me deixando confuso...espera...você acha pior a hipótese de ser flagrado por ela em sua desconfiança do que a possibilidade de, nesse exato momento, você ser um corno de verdade, com todas as ramificações e galhos que têm direito?
- Veja bem...se eu seguir ela eu corro dois riscos: ou eu comprovo que sou corno ou eu passo por pseudo-corno. Por outro lado, eu ficando, a possibilidade de ser corno continua existindo, mas na segunda opção, eu nada sou além de um homem casado que nutre uma relação de fidelidade e confiança com sua mulher.
- Eu desisto...você tem vocação é pra corno-manso...
- Não, eu apenas sou precavido. Prefiro o seguro ao inseguro. Pelo visto você sim é um corno...do tipo “pseudo”, é claro...
- Lá vêm você de novo com essa palhaçada de “pseudo-corno”... isso pra mim é desculpa...você está é com medo de encarar a verdade!
- Você fala de mim, mas cadê a Rosa?
- O quê?! A Rosa está em casa fazendo o almoço!
- Quem te garante?
- Olha...eu vou ligar pra casa agora só pra te provar...alô, Pedrinho? Cadê sua mãe? O quê?! Saiu? Mas ela disse onde foi? Hã? Ela saiu arrumada...a essa hora do dia...sem me avisar nada? Ela também não te falou pra onde estava indo? Ah...ela vai ter que me explicar essa! Tchau, meu filho...
- Pera, pera, pera aí!! Mas aonde você vai?
- Vou atrás da Rosa...ela aproveitou que saí de casa pra...
- Pra quê? A Rosa não é uma santa? Pois ela foi à missa com a Cristina.
- Como assim... você sabia que a Rosa não estaria em casa agora e me fez pensar que...
- Mas qual é o problema... a Rosa não é uma santa?
- Olha aqui... você quer me enlouquecer, é? Isso aí da igreja... é verdade mesmo?
- Claro que é... quer dizer, eu garanto pela Cristina, foi isso que ela me falou...
- Você devia ter vergonha!! Nunca mais fale assim da minha Rosa que ela é direita!
- Quer dizer então que você acha que a Cristina não é direita?
- Nã...bem...eu não quis dizer bem isso. Não exatamente...
- Mas disse.
- Espera aí! Foi você mesmo que me confessou estar desconfiado dela!
- Mas foi você quem a pré-julgou. Eu falei tudo aquilo pra distrair você enquanto a Rosa e a Cristina preparavam sua festa de aniversário surpresa, na semana passada, lembra?
- Lembro, mas....
- Pois é...eu precisava prender você aqui em casa enquanto elas faziam tudo. Por isso pensei naquela história pra distrair sua atenção sem que você desconfiasse de nada.
- Então você... meu Deus! Me desculpe...pela Cristina...
- Pois é... no fim das contas eu não sou corno de jeito nenhum, mas você pra pseudo-corno não falta mais é nada.
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
À Procura
Caminho entre as flores. Ao meu redor escuto vozes chamando, mas não vou. Em frete eu me disperso, não consigo concluir os passos. Estou cercado por tudo e por todos que me tocaram. Tudo sofre e me magoa. Choro não pelo drama, mas por uma tristeza simples de sonho perdido. De tudo, é o que me destoa.
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Fotografia: Matheus Magenta em www.velocidadedoobturador.blogspot.com
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