segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Sangue das canções

Conversando com algumas pessoas sobre música e, mais precisamente, sobre coisas fantásticas e fantasticamente diferentes produzidas na MPB (utilizo a sigla para referir-me à Música Popular Brasileira de quando a música esteticamente criativa no Brasil era a mais popular - assim me contam os mais velhos) me dei conta de quantas canções interessantes, maravilhosas, heterogêneas temos guardadas na memória de coletâneas e álbuns mofados. Eu, que me julgava um ignorante na área, e ainda certo de minha ignorância, percebi que muitos dos que gostam a fundo de música e são jovens como eu também não conhecem muita coisa. Por isso, resolvi postar aqui canções, sempre que alguma lembrança (ou nova descoberta) me ocorrer. Assim consigo doar um pouco de meu pequeno acervo de MPB velha e de MPB nova com espírito da velha. Adoraria que fizessem o mesmo comigo. No caso, a canção é Drama, composição peculiarmente "dramática" do mano Caetano sobre a intensa tarefa que é compor e interpretar canções. Ele sabia como fazer isso feito poucos na época da MPB velha. (Pra quem quiser baixar, a intérprete é a mana Bethânia)


Drama

Eu minto, mas minha voz não mente
Minha voz soa exatamente
De onde, no corpo da alma de uma pessoa,
Se produz a palavra "eu"

Dessa garganta, tudo se canta
Quem me ama, quem me ama?

Adeus
Meu olho é todo teu
Meu gesto é no momento exato
Em que te mato

Minha pessoa existe
Estou sempre alegre ou triste
Somente as emoções

Drama
E ao fim de cada ato
Limpo num pano de prato
As mãos sujas do sangue das canções