quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Mas por que não nos reinventar?

Sempre gostei de tango, de como ele envolve, seduz. O som do tango dilata um ambiente de luxúria absolutamente irresistível. Parece que as notas musicais se combinam para formar sons e timbres afrodisíacos, que entram pelos ouvidos e esquentam todas as partes. É estranho, mas o tango parece ser capaz de carregar as pessoas para onde quiser. Paixão, sedução e tesão. Tudo se mistura numa prisão sem saída, porém habitada por liberdade. No tango pode tudo em matéria de amor. O tango é a dramatização da paixão.

Mas por que não reinventar o tango? Colocar nele a voz humana... nada contra, desde que letra e voz convertam para os mesmos propósitos do arranjo: drama, paixão, sedução...loucura. Ainda sim não admitiria quaisquer palavras a contornar a melodia, muito menos qualquer voz a percorrê-la. A letra de um tango não pode jamais abdicar do delírio e da força dramática. No caso da voz, é preciso que ela seja um acúmulo de antíteses musicais. Precisa ser forte e delicada; grande e leve; densa, porém maleável como uma pena solta no ar à mercê de ventos mais fortes ou fracos. Tudo isso ao mesmo tempo. A voz no tango precisa ser capaz de passear por todos os sentidos da paixão, sem esmorecer. Um, dois...


.
TRÊS*

Um
Foi grande o meu amor
Não sei o que me deu
Quem inventou fui eu
Fiz de você meu sol
Da noite primordial
E o mundo fora nós
Se resumia a tédio e pó
Quando em você
Tudo se complicou
.
Dois
Se você quer amar
Não basta um só amor
Não sei como explicar
Um só sempre é demais
Pra seres como nós
Sujeitos a jogar
As fichas todas de uma vez
Sem temer naufragar

.
Não há lugar pra lamúrias
Essas não caem bem
Não há lugar pra calúnias
Mas por que não nos reinventar?
.
Três
Eu quero tudo que há
O mundo e seu amor
Não quero ter que optar
Quero poder partir
Quero poder ficar
Poder fantasiar
Sem nexo e em qualquer lugar
Com seu sexo junto ao mar


* A canção TRÊS é uma composição dos irmãos Marina Lima e Antônio Cicero.