Na vida precisamos de um plano. Esta é a lição de Cássie (Anna Sophia Robb), uma rara menina de 13 anos em busca da felicidade. Planejando seu futuro junto a Ben (Cayden Boyd) ela definiu metas reais para suas vidas e as perseguiu com objetividade e determinação. Até aqui não há nada além de uma lição de ADM aplicada na gestão estratégica do futuro de uma pessoa. Ou melhor, de duas.
O tocante, no entanto, não é o enredo da história de Cássie ou sua personalidade forte e encantadora, mas o enigmático desenho de seus olhos. Não me refiro apenas ao estético, visual, mas sim ao que eles traduzem para os espectadores de Em busca da felicidade*. E para além disso, me refiro ao que eles, em sua beleza e fascinação, resguardam dentro de si. O filme inteiro está depositado ali, no mistério dos olhos de Cássie.
A busca pela felicidade que Ben e Cássie trilham juntos não pode ser reduzida, em nenhuma hipótese, a um enredo água-com-açúcar. Não pode, sobretudo, devido ao complexo sentimento de culpa e remorso que Cássie suporta por de trás de seus olhos. Toda essa perturbação emocional faz de sua jornada em busca de uma vida feliz uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo que ela segue com rigor o caminho para uma felicidade planejada, dentro de si ela foge, assustada, da tortura que consome sua força e sua alegria. Até não poder mais.
Quando Cássie já não tem saída, eis que surge Ben pra salvá-la de si mesma com seu próprio antídoto para a vida: um plano. Após ser libertado por Cássie de uma vida gélida e sem nem uma pitada de afeto, Ben se vale dos ensinamentos de Cássie para trazê-la de volta do sofrimento que a dominara. Desta vez o plano é absolver-se da culpa. E seguir adiante.
O que motivara Ben, no entanto, foi a insuportável saudade dos olhos de Cássie. Olhos que, apesar de intimidantes, encantadores, fascinantes, o acariciavam com um desconhecido sentimento de amor. Este amor que o surpreendera por fazê-lo descobrir a felicidade ainda durante o caminho que julgava estar percorrendo justamente para encontrar uma vida feliz. Mas só no fim, dizia o plano.
A lição de Cássie é muito importante...conforme ela ensinou a Ben, “na vida precisamos de planos, afinal a vida já é muito louca sem um”. Mas a maior lição de Em busca da felicidade é aquela que Cássie não previra e muito menos enxergara em sua obstinação para cumprir seus planos. A felicidade não está apenas no fim do caminho, mas ao longo de seu percurso. O amor e as relações que cultivamos ao longo da jornada é que fazem, no fim das contas, ela valer a pena. Além do mais, não há plano perfeito que nos leve a uma felicidade completa e, por isso, temos que aprender a ser felizes mesmo com os problemas.
* Para quem quiser mais informações do filme, inclusive assistir o trailer: www.embuscadafelicidade.com.br